quarta-feira, 27 de junho de 2012
A velhice crônica
Fim de tarde. Depois de semanas de chuva intensa o sol quis dar o ar da sua graça. Enquanto escurecia, as nuvens pesadas se dispersavam. A natureza tem dessas coisas. Faz acontecer rápido. Muda rápido. Assim deveria ser nossas vidas? Enquanto apreciava o espetáculo celestial, algo me chamou a atenção. Como a rua estava calma, com poucos pedestres, meus olhos, inevitavelmente, avistaram um senhor de idade, que em questão de segundos, tropeçou e estatelou-se ao chão. Nem mesmo a bengala que ele trazia nas mãos foi útil e evitou o tombo cinematográfico. Rapidamente, olhei para os lados, na desnecessária atitude de ajudá-lo. Meus pés cravaram no chão e de lá não consegui me mover. Não me perguntem o porquê. Não sei dizer. Da minha egoísta atitude avistei o velhinho gemer de dor. O sangue jorrava de sua face. Seus olhos miravam o céu, como que implorando um auxílio, uma ajuda, uma luz...Poucos segundos se passaram, entretanto para o senhor ferido pareceram séculos. Uma menina, na altura de seus 10 anos, quando avistou a cena, correu e ao mesmo tempo gritou. Um grito tão desesperado, que imediatamente, minha paralisia egocêntrica foi embora. Corri o mais rápido que pude e cheguei próximo do acontecido já com várias pessoas ao redor da criatura ferida. O que encontrei me tomou o coração. Veio a minha mente a imagem de um cachorrinho acuado, ferido, amedrontado, que uma vez vi ser atropelado. Fiquei com pena, fiquei com raiva, com medo da velhice, da sensível idade da maturidade, da terceira idade. Deu-me um medo enorme! Aquele senhor, que um dia, já foi jovem, forte, independente, cheio de sonhos, de brilhos em seu olhar, agora encontrava-se em um cenário tão triste, tão humilhante. Não conseguir dar um simples passeio? Fiquei a pensar sobre isso, enquanto o velhinho recebia os primeiros socorros. Nos achamos tão livres e independentes, todavia esquecemos que caminhamos todos para um único fim: a velhice. No momento em que o senhor era colocado em uma maca para ser levado ao hospital, tentei me aproximar para ajudar. Neste instante, os olhos daquele senhor esbarraram nos meus. Não consegui desviar. Ele me sorriu aliviado. Todas as suas dores pareciam ter ido embora. A solidão que ele sentia dava lugar a uma esperança infantil. Aquele homem, senhor, idoso, velhinho, velho agarrava-se a sua vida com uma energia tão grande que me deixou envergonhada. E lá se foi ele, dentro da ambulância. Foi e levou consigo minha coragem. Fiquei ali parada na rua, agora, com medo. Amanhã eu começaria a envelhecer. Dia após dia até à velhice. Romperia as barreiras da meia idade. Amanhã eu já seria meio velha. E eu só queria apreciar o sol depois de tanta chuva!
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